Alfonso Cuarón explica o “efeito Roma”
Cineasta mexicano comenta campanha desencadeada, após repercussão do filme, pelos direitos das empregadas domésticas nos EUA e no México e a importância da autenticidade no envolvimento com causas
Cineasta mexicano comenta campanha desencadeada, após repercussão do filme, pelos direitos das empregadas domésticas nos EUA e no México e a importância da autenticidade no envolvimento com causas
Roseani Rocha
18 de junho de 2019 - 10h28
Colleen DeCourcy, co-presidente e CCO da Wieden + Kennedy, foi quem recebeu os convidados do painel Defining Art+Activism, entre os quais o premiado cineasta mexicano Alfonso Cuarón, diretor de filmes como Gravidade e Roma, este último vencedor de três Oscar: direção, cinematografia e Melhor Filme Estrangeiro (o primeiro na história do México). Além de Cuarón, participaram do encontro David Linde, CEO da Participant Media e Ai-jen Poo, diretora executiva da Aliança dos Trabalhadores Domésticos.
A CCO da W+K iniciou o painel avaliando quanto do público presente era composto por profissionais de agências e quantos eram anunciantes e, depois, desse total quem havia recebido recentemente alguma demanda para atuar em alguma causa social. Foram muitas as mãos levantadas e Colleen confirmou, assim, a tendência de que as pessoas querem propósito e as marcas sabem que se não se envolverem no assunto ficarão para trás. A publicitária também lembrou que muitos ali conheciam o filme Roma, mas talvez não tivessem tomado conhecimento de que ele também desencadeou uma campanha nos Estados Unidos e no México para mobilizar o poder público dos dois lugares em torno de mudanças na legislação para garantir direitos das empregadas domésticas.
Poo, Linde e Cuarón foram os protagonistas dessa história que correu paralelamente ao sucesso estrondoso de Roma, cujo roteiro trata da vida de uma jovem indígena mexicana que trabalha como empregada doméstica para uma família. “Esse filme foi sobre olhar para trás e tentar descobrir quem eu era, de onde vinha, que relações afetavam minha vida. Em Roma, retrato uma relação com aquela que praticamente foi minha segunda mãe, uma pessoa que era doméstica em minha casa. É um filme sobre ela”, afirmou Cuarón.
Para o projeto que veio depois do filme, Cuarón ressaltou a importância de que fosse algo que tivesse como elemento fundamental despertar uma ação social (e que não fosse algo com alguém lucrando em cima de uma causa, mas que o dinheiro trabalhasse em favor dessa causa). Também contou que as conversas sobre o fato de o filme ter despertado a atenção para a situação das trabalhadoras domésticas começaram a acontecer rapidamente. Já no festival de Veneza, ele havia encontrado Ai-Jen e tratado do assunto.
“A minha organização representa uma força de trabalho nos Estados Unidos que vai para nossas casas todos os dias, cuidar das nossas crianças, colocar ordem na nossa bagunça. Cuidam das coisas mais valiosas da nossa vida, e ainda assim esse é um dos trabalhos menos valorizados”, afirmou Ai-Jen Poo, afirmou, lembrando em seguida, que a maioria das domésticas trabalha muito e mal consegue cuidar de suas próprias famílias.
De toda forma, é uma parte marginalizada, mas crescente da economia, principalmente por conta do aumento da demanda causado pelo envelhecimento da população, já que os idosos requerem mais que outros públicos cuidados e auxílio nas tarefas da casa. Assim, o filme Roma acabou por ajudar a levantar a bandeira de um movimento pelos direitos desse perfil de trabalhadoras. Hoje, nove estados norte-americanos criaram legislações específicas para tratar do assunto e o México tem acelerado os progressos recentemente feitos.
Ai-Jen Poo, destacou que a campanha aproveitando o momento do filme Roma foi diferentes por três aspectos: o objetivo não apenas de divulgar, mas de compartilhar um propósito; parcerias autêntica e baseada em confiança; e muito trabalho (cada parte envolvida teve equipes trabalhando ao longo de um ano intensamente).
Representante da terceira ponta envolvida, a Participant Media, que além de Roma esteve envolvida em projetos como os filmes “Uma verdade inconveniente”, Food, Inc e Spotlight, David Linde ressaltou que o trabalho da empresa, há 15 anos, é dar oportunidade a boas pessoas de poderem fazer bons trabalhos. “Causar impacto social é um trabalho em equipe”, afirmou. Ele conta que o modo de operar da Participant, como sugere o nome, é criar relações entre pessoas que possam não se conhecer, e fazer que colaborem por um mundo melhor, mas num tipo de engajamento em que se sintam confortáveis em trabalhar juntas.
Questionado se Roma e, principalmente, o “efeito Roma” o fez mudar a forma como pensa seu trabalho, Alfonso Cuarón afirmou se sentir tocado pelo que acontece agora no México, de os empregados domésticos terem seus direitos reconhecidos. E alertou para o fato de que, sendo as redes sociais um fato hoje, as pessoas farejam de longe quando algo não é genuíno. Logo, as relações em projetos como o realizado com a Aliança de Trabalhadores Domésticos devem se estabelecer a partir da honestidade.
Para os profissionais do mercado interessados pela causa e que não atuem nem nos EUA, nem no México, David Linde, da Participant, deu um endereço de e-mail para contato, com apoio da organização do festival: canneslions@domesticworkers.org.
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