David Droga: “Eu nunca quis ser um publicitário”
Prestes a iniciar um novo capítulo em sua carreira, David Droga relembra o início da sua trajetória e defende uma criatividade, bem como uma indústria, livre de limitações
David Droga: “Eu nunca quis ser um publicitário”
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Giovana Oréfice
19 de junho de 2025 - 10h43
David Droga encarou seu primeiro trabalho como criativo como um presente: afinal, ele estava sendo pago para usar a imaginação. Da Austrália para a Ásia até Londres e Nova York, para a fundação da Droga5, Droga se prepara para, em setembro deste ano, deixar o cargo de CEO da Accenture Song para assumir como vice-chair e passar o bastão à Ndidi Oteh, atual líder da Accenture Song Américas.
David Droga assume como vice-chair da Accenture Song em setembro (Crédito: Celina Filgueiras)
Seu premiado sucesso se deve, em grande parte, à capacidade de aliar a criatividade à resolução de problemas. Daí, surgiram cases ovacionados pela indústria, como o Tap Project, em 2006, para Unicef, e que associava a ação à caridade, mostrando a publicidade como um vetor para mudanças positivas.
“Eu nunca quis ser um publicitário. Só queria ser alguém que usasse a imaginação para lidar com a resolução de problemas. Mas eu ficava bastante incomodado com as barreiras da publicidade. Então, eu sempre tentava quebrá-las e testar seus limites”, disse. “Nós, como indústria, não podemos e não devemos usar nossos talentos apenas para isso, temos que usá-los para fazer as coisas avançarem”
À audiência do primeiro painel do Lumière Theatre no quarto dia do Cannes Lions, compartilhou a crença de que não basta apenas provar a criatividade, mas, também, acreditar que nem sempre é possível saber como será a execução. “Se eu acho que uma ideia é a coisa certa para o público certo, no momento e contexto certos, descobrir como realizá-la é a parte fácil”, defendeu.
É importante, descreveu, começar pelo fim, ou seja, pela reação do público como parte da ideia: “Quando você recebe um briefing, ele não precisa ser algo irreverente ou algo rígido desse tipo. Pode ser a coisa mais nobre do mundo, mas você começa pensando em qual reação final quer provocar”, disse. Isso, segundo ele, abre o leque para mais oportunidades na criação.
E o impacto pode partir de ideias não convencionais. O primeiro projeto da Droga5 foi uma campanha para as Olimpíadas de Pequim de 2008 para a GE, patrocinadora do evento. A proposta foi a construção de um prédio utilizando a tecnologia da empresa – e esse seria case. A condição era que durasse pelo menos 50 anos e auxiliasse na limpeza de um dos rios da cidade. Foi naquele momento que ele percebeu que, de fato, a criatividade pode ter inúmeros formatos.
Em 2013, a agência de talentos William Morris Endeavor adquiriu uma participação minoritária da Droga5. À época, a indústria encarou a transação como a “morte da criatividade”, lembrou o criativo, que justificou a decisão como, na verdade, um movimento pela expansão da criatividade. “Eu nunca tive medo de tentar algo novo, seja criativamente, em parcerias”, declarou. “A indústria do entretenimento precisava de nós e nós precisávamos dela”.
Droga, conforme lembrou o mediador da conversa Tim Nutt, editor de criação do Ad Age, nunca desistiu de fazer filmes. Droga protagonizou o primeiro video case enviado ao Cannes Lions. Um vídeo de 5 minutos mostrava um grupo de artistas grafitando o Air Force One, aeronave da Força Aérea dos Estados Unidos, e foi destinado ao artista Marc Ecko.
“Vocês podem me odiar porque eu criei essa corrida armamentista de video cases pela qual todos são obcecados, mas essa nunca foi a minha intenção”, confessou à audiência. O case rendeu à Droga5 um Grand Prix em Cyber. “Eu amo filmes, mas também quero poder criar produtos, eventos e sistemas com o mesmo espírito de ousadia, bom gosto e cuidado”, acrescentou.
Olhando para o futuro da indústria, Droga reconhece que tecnologias emergentes, como a inteligência artificial, deverá gerar mudanças, mas é preciso abraçá-las. “Se não o fizermos, ninguém irá, pois somos nós que damos significado, contexto e oportunidade para que coisas incríveis sejam feitas”, apontou. “Nós, como indústria, somos contra a apatia, a mediocridade e a fórmula”.
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