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Diário de Cannes

É verdade?

Os maiores cases de sucesso que vi este ano aqui nas palestras não são sobre grandes ideias


24 de junho de 2022 - 12h41

Último dia de festival e uma coisa ficou na minha cabeça: os maiores cases de sucesso que vi este ano aqui nas palestras não são sobre grandes ideias, nem sobre grandes execuções, mas sobre conexões profundas com a realidade.

Quando a maravilhosa Malala Yousafzai falou na palestra dela sobre o papel das marcas e agências de “trazer as pessoas para a mesa”, claro que ela se referia à representatividade, a ouvir vozes diversas e movimentos sociais, a olhar para a rua e para todas as questões que vêm dela. Mas sinto aqui que essa fala é tão poderosa que se expande para absolutamente tudo dentro da comunicação e do marketing.

Trazer as pessoas para a mesa passa por ouvir o que os consumidores pensam e colocar isso no mundo. Passa por transformar fãs em influenciadores e fãs famosos em porta-vozes. Culmina em ampliar a voz de quem naturalmente já tem conhecimento e amor pela marca ou por determinado assunto.

Pode procurar, toda marca tem sua verdade. E é a partir dessa verdade que a gente precisa comunicar. A verdade não precisa ser criada, forjada, manipulada; a verdade tem sua própria voz e o poder natural daquilo que todo mundo tanto procura: autenticidade. Quando a gente consegue encontrar a verdade, ela vira um guarda-chuva de onde saem infinitas conversas e oportunidades. E se a gente se lembrar de “dizer mais sim do que não”, como sugeriu o CEO global da Wieden+Kennedy, Neil Arthur, em uma das conversas que rolaram por aqui, aí é que se abre o mar de possibilidades pra gente poder caminhar no meio de uma vitrine de ideias.

Então, não vamos só colocar a Megan Thee Stallion para estrelar um filme, mas transformá-la em uma plataforma de adoração ao Cheetos, porque é o que ela já é. Não vamos só chamar o Travis Scott pra ser a cara de uma campanha, mas descobrir que ele é um entusiasta que dorme num travesseiro com fronha de nugget do McDonald’s e nos apoiar nesse caso de amor para lançar uma campanha que vai virar cultura. Vamos enxergar jogadores de futebol americano não só como uma força dentro do campo, mas como a voz de ideais e movimentos sociais que a NFL pode e deve ter o poder e a responsabilidade de amplificar.

E quanto a nós, enquanto indivíduos na função de comunicadores, que consigamos ser “1% melhor a cada dia” e “muito maiores do que as nossas profissões”, como lembrou hoje o defensor do Saints, Cam Jordan, apoiado em um dos grandes ensinamentos do esporte. Para que a gente tenha pelo menos o ímpeto de querer enxergar onde é que está essa tal verdade.

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