Music First: aos meus amigos produtores de áudio
A música tem esse poderde amalgamar imagem e mensagem e não pode ser deixada por último no meio de um processo criativo
Quase todo mundo que trabalhou comigo sabe que, muito antes de eu criar campanhas, eu crio músicas. Desde os 5 anos de idade, mais precisamente.
O que eu não sabia é que, em algum momento, isso se juntaria tão fortemente com a minha profissão diária, a propaganda.
Dois casos muito recentes foram uma campanha feita para o Grupo CCR com o cantor Daniel e o seu pai, Seu Camilo, na qual tive a oportunidade de compor uma música falando da vida na estrada. Essa canção fez total sentido para os dois, porque o pai do cantor sempre foi caminhoneiro e a intensidade com que ambos se envolveram no projeto fez toda a diferença pro filme final.
Já, o outro caso foi a música-chiclete do UOL para a Minizinha, gravada pelo Michel Teló. Ela pegou tanto, que virou a campanha de varejo mais lembrada da marca. É só digitar um trecho da letra no Twitter pra ver o que acontece.
Essas duas campanhas nasceram de um mesmo insight: a música.
Aí você está se perguntando: o que raio isso tem a ver com Cannes?
Bom, é porque foi aqui que tive a oportunidade de assistir à entrevista do vocalista do Duran-Duran, Simon Le-Bon e do Nick Wood, ambos sócios-fundadores da Syn Music. Estes senhores posicionaram o seu negócio como sendo uma “Music Agency” e contaram um pouco sobre como tudo funciona.
As palavras do Nick soaram, literalmente, como música para os meus ouvidos. Ele reforçou muito que o elemento sonoro de uma campanha, seja uma trilha ou uma música completa, deve ser concebido desde o momento zero da criação de um trabalho.
A música tem esse poder incrível de amalgamar imagem e mensagem e portanto, não pode ser deixada por último no meio de um processo criativo.
Ela é tão protagonista quanto o plano e contra-plano do diretor de filme, da referência gringa da produtora de 3D. Sua identidade é um elemento importantíssimo na construção, não só da linguagem de uma campanha, mas de todo o branding de uma marca.
A coerência sonora é algo que deve ser considerado e evoluído a cada peça, assim como fazemos como uma paleta de cores ou um tom de voz.
E indo mais além, a música pode ser de fato o grande protagonista de uma história. O exemplo dado por eles foi a canção composta e produzida para a Ariana Grande e que foi lançada dentro do game Final Fantasy.
Ouvir dois artistas de peso falando o termo “Music Agency” e reforçando a importância da música na propaganda, me fez viajar por todas as reuniões de pré-produção que eu fiz na vida em que a trilha sempre ficou por último.
E por mais que eu seja desse universo e que vez ou outra consiga colocar a música como plano central de uma campanha, vejo que ainda há muito para se evoluir no nosso modus operandi. Ainda mais sabendo que isso é tão fácil de mudar, visto que tem tanto criativo que toca algum instrumento ou que canta.
Portanto, pensemos na música desde o momento zero. Assim como a gente pensa no visual do filme, no layout e no texto.
Porque criar uma boa peça pra uma campanha é como criar um arranjo: cada instrumento deve fazer a sua parte. Afinal, se tirar a bateria, a gente perde o ritmo. Se tirar o baixo, perde o peso. Se tirar a guitarra, perde o brilho.
E se tirar a música, perde a graça 😉