13 de junho de 2024 - 10h42
Não é mistério nem segredo para ninguém que o Festival Cannes Lions é o evento mais importante da indústria, unindo gigantes da criatividade e da comunicação. Mas existe outro ritual importante que se inicia no mesmo momento do festival, as Lions Academies. São três: a Brand Marketers Academy, a Roger Hatchuel Student Academy e a Creative Academy. Quero focar nesta última.
Desde 2012, a Creative Academy oferece uma experiência de aprendizado com duração de seis dias, focada em jovens criativos que desejam crescer e serem inspirados por algumas das pessoas mais influentes do mercado publicitário. A ambição da academia é se colocar como um ambiente de formação da próxima geração de líderes em criatividade, fornecendo ferramentas, conhecimento e, obviamente, conexões.
Por se tratar de um programa global, jovens talentos em ascensão terão uma experiência única, pelo contato com coletividades distintas e grandes nomes do mercado, em aulas exclusivas e vivências dentro e fora do Palais des Festivals et des Congrès. O lugar perfeito para quebrar velhos paradigmas é justamente aquele que propicia choque com outros paradigmas. Será, então, uma catarse de pontos de vista, referências distintas, línguas variadas e, claro, corporalidades variadas. A premissa é sedutora, mas você precisa ter menos de 30 anos, passar por um rígido processo seletivo, afinal, são só 30 vagas para o mundo todo e, claro, alguns milhares de euros para pagar o programa em si, hospedagem e alimentação na nada humilde Riviera francesa. Não preciso nem mencionar que a “nova geração” de criativos não parece ser tão heterogênea assim, já que o perfil de quem possui uma capacidade financeira tão robusta, raramente varia. Mas trago boas notícias.
Felizmente, Cannes têm ampliado seus esforços inclusivos em diversas frentes, como afirma Frank Starling, Diretor de Diversidade, Equidade e Inclusão do festival. Em 2024, mais de 1,5 milhões de euros em passes gratuitos foram distribuídos para tornar o festival mais diverso e acessível. A Creative Academy também tem programa de bolsas e de permanência. É o suficiente? Claro que não. Exatamente por isso, agências, produtoras e órgãos de comunicação devem criar suas próprias mecânicas para gerar oportunidades para seus colaboradores. Um exemplo feliz é o NextUp, concurso criativo interno global da Media.Monks que premia seus vencedores com passes para o festival, uma vaga na Creative Academy e todo o suporte financeiro necessário. É assim que esse que vos fala vai estar em Cannes esse ano. Mesmo sem milhares de euros. Com mais de 30 anos. Brasileiro e transsexual. E pretendo dividir a minha experiência na Academy e em Cannes com vocês a partir dessa perspectiva, que me parece, sim, mais heterogênea.
Todos os anos a Creative Academy se debruça sobre um tema. E o deste ano o escolhido é um nada trivial: Inteligência Artificial (IA), Inteligência Humana (IH) e Criatividade. Em uma era em que a influência da inteligência artificial permeia todos os setores, incluindo a publicidade, faz todo o sentido. Mas para compreender a IA como ferramenta que amplifica a capacidade humana, é preciso colocar as pessoas para dentro dos lugares de discussão. Quanto mais diferentes forem suas perspectivas, melhor. Só assim teremos uma compreensão ampla e segura de como inserir novas tecnologias na vida humana, sem a precarizar ou gerar desentendimentos e temores. Para criar IAs, precisamos investir em IHs.