24 de junho de 2021 - 12h51
A edição de 2021 nos mostra que um movimento que vem se consolidando no festival: a presença de temas ligados ao jornalismo, à liberdade de imprensa e ao acesso à informação nos shortlists da premiação. Um dos primeiros exemplos disso é a campanha “JFK Unsilenced”, do jornal inglês The Times, que levou o GP de Creative Data no festival em 2018. Agora, estamos observando a consolidação dessa tendência: entre outros projetos que tratam do tema, “O Valor da Notícia”, campanha da agência Africa para a Folha de São Paulo, recebeu o Leão de Ouro em Print & Publishing e de Prata em Outdoor. O insight? A informação tem tanto valor que poderia ser impressa até em papel moeda.
Confrontados com o declínio nas vendas de impressos, uma crescente desconfiança nas organizações e uma tendência a se confundir opinião com fatos, talvez nunca tenha sido tão importante os jornais lembrarem seus leitores do valor da verdade. The New York Times já havia feito isto em 2019 com a campanha “The Truth is Worth It” – mesmo ano em que o jornal Metro, aqui no Brasil, lançou uma ferramenta de “captcha” que ajudava as pessoas a identificarem fake news, em uma ação criada com a agência Artplan.
Nesta edição do Cannes Lions, o projeto em que Columbia Journalism Review – trabalhando com a Area23 (agência da FCB Health) – convidou os maiores jornais dos EUA para firmarem um acordo para uma cobertura mais responsável da violência por armas de fogo no país recebeu Leão de Prata em Print & Publishing e de Bronze em Design e em Health & Wellness. Para mostrar aos jornalistas as falhas em sua cobertura do tema, a campanha criou o “The Inevitable News”, um jornal que cobre todos os tiroteios em massa nos últimos 3 anos – em um único artigo. A publicação serviu como convite para o Gun Violence News Summit, um evento que reuniu jornalistas e líderes de empresas como The New York Times e The Washington Post para mudar para sempre a forma como sua indústria cobre a violência armada.
Outra conversa, dentro deste mesmo assunto, também está ganhando fôlego em Cannes: o acesso à informação. “The Uncensored Library”, iniciativa do Repórteres Sem Fronteiras com a DDB Berlin, é uma grande biblioteca virtual construída no game Minecraft com reportagens censuradas em países autoritários, já levou ouro em PR, Social & Influencer e Digital Craft e é um dos fortes concorrentes da categoria Titanium – combinando uma pauta séria com a ascensão e o alcance global de uma plataforma como o Minecraft. A campanha é uma espécie de continuação de “The Uncensored Playlist”, da mesma organização, que venceu o Titanium em Cannes em 2018.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e o site Congresso em Foco, trabalhando com FCB Brasil, também levaram prêmios no festival deste ano com “Bolos AntiBlock”, um protesto virtual contra o bloqueio por autoridades públicas no Twitter, inspirada nas receitas de bolo publicadas nas páginas de jornais censurados pela ditadura militar.
De maneira mais ou menos direta, o que estamos vendo são marcas e iniciativas endereçando temas ligados à política, em sua intersecção com a informação. Entre as plataformas sociais, a primeira campanha da história do Reddit, “Up the Vote” (criada pela R/GA) abordou de forma criativa a questão do engajamento político versus o engajamento digital nos EUA (onde o voto não é obrigatório) e levou o bronze na categoria Creative Data.
Liberdade de imprensa, informação e educação midiática: a chegada desses temas em Cannes mostra que, na urgência do momento que vivemos, não existe assunto proibido para marcas, estrategistas e criativos.
* Texto escrito com a colaboração de Victor Augusto Magalhães, pesquisador e redator na Contagious Brasil.
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