Lições compartilhadas entre a gastronomia japonesa e o marketing
Chef Keisuke Matsushima e Maiko Mori, presidente da Ajinomoto Europa, mostram como abertura ao diferente e a curiosidade levaram a cozinha japonesa ao topo do ranking global

Da esq à dir: Honda, o chef Matsushima e Maiko, da Ajinomoto (Créd: Roseani Rocha)
Nem só de grandes nomes que passam pelos auditórios principais do Palais vive o conteúdo do Cannes Lions. A abrangência de assuntos e palestras simultâneas em diferentes palcos teve uma inusitada no primeiro dia do festival – e que despertou a fome de muita gente, já que aconteceu às 13h15, no horário local: “Inspire, reinvente, globalize: segredos da criatividade na alimentação japonesa”.
No palco The Forum se reuniram Maiko Mori, presidente da Ajinomoto Europa, Keisuke Matsushima, chef do restaurante Passion, e o moderador Tetsuya Honda, CEO da Honda Office.
A discussão dos três, na trilha Insights e Tendências, foi numa mistura de japonês e inglês, em torno dos fatores que levaram a gastronomia japonesa a ganhar o mundo. Isso foi comprovado, lembrou Honda, pelo fato de o país asiático ter sido o segundo colocado na edição 2023/2024 do 100 Best Cuisines, atrás apenas da Itália e à frente da terceira colocada, a Grécia – a historicamente renomada culinária francesa ficou apenas na oitava posição, para quem se perguntou a respeito dela.
Sobre a ordem das primeiras posições no ranking, o chef japonês exalta que a Itália se destaca por sua cultura e história, já o Japão teve nos mangás uma ferramenta que acabou ajudando a disseminar a comida local em outros países. Ele lembra que quando abriu seu primeiro restaurante, há 20 anos, o conceito de umami que associa sabor e saudabilidade, porque envolve o bom funcionamento digestivo e bem-estar, era algo que não existia fora do Japão.
Mas os palestrantes reconheceram que pratos hoje conhecidos globalmente por meio da culinária japonesa tiveram, na verdade, sua origem na China, como o ramem e gyoza. Outro fator que facilitou a disseminação da gastronomia nipônica, destacou a executiva da Ajinomoto, é a diversidade de ingredientes, as combinações que os japoneses fazem com a cozinha internacional e “termos muita curiosidade”, disse ela.
A empresa aplica em seus desenvolvimentos o Modelo de Ciclo Criativo, que é ancorado por três pilares: inspirar, reinventar e globalizar. Ou seja, apesar de ser uma ilha, o Japão não se isolou do restante do mundo, no sentido de permanecer aberto a novos sabores e, depois, devolver ao mundo as releituras que faz deles.
“Não apenas entregamos comida japonesa globalmente, tentamos fazer comida home made e transformar esse sabor num produto”, disse Maiko, para quem a chamada; “deliciousness tecnology”, combina sabor, aroma e textura.
E o mundo também faz suas interpretações do que recebe do Japão. Honda lembrou quantas versões diferentes de ramem existem e que se o gyoza em países como o Brasil figura entre os pratos principais, na Europa, aparece como aperitivo.
Resgatando a importância do conceito do umami, o chef Matsushima ressaltou que corpo e mente estão presentes nele e, num mundo tão cheio de guerras, expressou seu desejo de paz e de que as pessoas pudessem compartilhar esse valor central da cultura e gastronomia japonesas.
O painel deixou claro que há muito da filosofia gastronômica que pode ser aplicado na indústria da publicidade. Os três conselhos deixados pelos palestrantes à plateia no final da apresentação, como uma boa sobremesa, corroboram isso: seja inspirado pela diferença; reinvente, não replique; e deixe uma margem, um espaço para sua visão crescer (ou seja, não busque tanto a perfeição).