Keeta estreia em São Paulo para acirrar disputa no delivery
Com investimento de R$ 5,6 previstos até 2023, aplicativo de origem chinesa quer se consolidar com taxas baixas e cupons aos consumidores

Tony Qiu, CEO da operação brasileira da Keeta, apresenta o aplicativo em evento, em São Paulo (Crédito: Larissa Santiago)
Na manhã desta quarta-feira, 26, a Keeta, aplicativo de delivery de comida, oficializou sua chegada a São Paulo em um evento que contou com a presença de Tony Qiu, CEO da operação brasileira. Desde outubro, a empresa chinesa já estava em origem, em caráter de teste, nas cidades de Santos e São Vicente.
A empresa inicia sua operação na capital e em oito cidades da região metropolitana: Guarulhos, São Bernardo do Campo, Santo André, Osasco, Diadema, Itaquaquecetuba, Barueri e São Caetano do Sul, a partir de 1º de dezembro. O investimento inicial é de R$ 1 bilhão, parte do plano de um total de R$ 5,6 bilhões previstos até 2030.
A operação brasileira tem a pretensão de ser a maior da Keeta fora da China. Segundo a empresa, 90% do time local é composto por profissionais brasileiros, e o call center da companhia para a operação no País ficará no Nordeste.
Além do CEO da operação nacional, também estiveram presentes no evento Danilo Mansano, vice-presidente de parcerias estratégicas, Rodrigo Goulart, secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, Luiz Hirata, presidente da Abrasel-SP, e o chef Felipe Prieto.
Restaurantes e consumidores
A Keeta chega ao mercado afirmando trabalhar com taxas em torno de 2% para os restaurantes, além de liberar recebíveis em sete dias, sem cobrança de taxa de crédito. Geralmente, esse padrão de repasse, segundo destacado pela empresa, costuma levar 30 dias.
A liderança reforça que não adota contratos de exclusividade com estabelecimentos. “Tirar a liberdade dos restaurantes não é saudável. Preferimos investir nas coisas certas para que o consumidor tenha a melhor experiência de escolha”, afirmou Qiu.
A plataforma já reúne mais de 27 mil restaurantes cadastrados, incluindo pequenos negócios e grandes redes, e 98,2 mil entregadores.
A empresa avalia como positivo o debate concorrencial no setor. “É saudável. Agora os consumidores têm mais escolha. No fim, vence quem oferece o melhor serviço para consumidores, restaurantes e entregadores”, destacou o CEO.
Para novos usuários, a empresa oferece cupons de boas-vindas de até R$ 200 e frete gratuito em mais de 90% dos parceiros. Segundo a empresa, 90% das rotas são rastreáveis e os pedidos contam com a política “Horário Garantido”, que assegura compensação em caso de atrasos, com cupons de até R$ 50.
Para os entregadores
A empresa destinará R$ 100 milhões em ações de apoio aos entregadores. Ainda em dezembro, a Keeta abrirá seu primeiro centro de suporte em São Paulo, na região de Santo Amaro, com área de descanso, água, banheiros e cozinha com micro-ondas.
Os parceiros poderão sacar ganhos diariamente, sem taxas, participar de treinamentos presenciais e receber capacetes inteligentes gratuitos até o fim do ano, inicialmente para ciclistas e, futuramente, para motociclistas. A plataforma também mantém suporte humano 24 horas.
A respeito da remuneração, a Keeta afirma que os valores pagos na Grande São Paulo seguirão o padrão considerado “atrativo” no piloto realizado em Santos.
A empresa também destacou iniciativas em desenvolvimento no Brasil, incluindo entregas por drones, modelo já operado na China, com cerca de 1 milhão de transações em Pequim, incluindo regiões próximas à Muralha da China. “Ainda não há regulamentação no Brasil, então pensamos nisso para o futuro — por exemplo, em áreas como a Floresta Amazônica”, afirmou o CEO.
Compra intermediada
A plataforma oferece ainda o formato de compra intermediada, que funciona mesmo quando o restaurante não possui parceria com o aplicativo. “Na Rússia, por exemplo, através do app , nós ligamos diretamente para o restaurante, o entregador retira o pedido e faz a entrega”, explicou.
Na China, o modelo é usado não apenas para comida, mas para compras diversas, consumidores podem solicitar que entregadores adquiram até um iPhone em lojas físicas.
Keeta no Brasil
A chegada à capital marca a segunda fase da estratégia da Keeta, braço internacional da chinesa Meituan. A operação começou no fim de outubro com um piloto em Santos e São Vicente, onde cerca de 700 restaurantes foram cadastrados e mais de dois mil entregadores passaram por treinamento.
O movimento brasileiro faz parte da expansão global da Meituan, que atua também em Arábia Saudita, Qatar, Kuwait e Emirados Árabes Unidos. O investimento ganhou projeção em maio, durante anúncio no Fórum Empresarial Brasil-China, em Pequim.
No front de comunicação, a Keeta apresentou o protótipo de seu capacete inteligente para ciclistas parceiros, previsto para implementação ainda este ano, e anunciou a Suno United Creators como agência full service. O time local passa a contar com Igor Cardoso como head de brand marketing e Danilo Mansano à frente de parcerias estratégicas.
Cenário competitivo
Em 2025, a categoria de delivery de comida voltou a registrar novos entrantes e reativar operações, inaugurando um novo ciclo de disputa.
A expansão também integra uma estratégia mais ampla de construção de um ecossistema que combina mobilidade, 99Pay e 99Food, por meio do qual a 99 busca consolidar gradualmente um modelo de super app.
A plataforma já opera em Goiânia e foi recentemente anunciada na Bahia, onde iniciará atividades em Salvador, Lauro de Freitas e Camaçari, as primeiras cidades do Nordeste a receber o serviço.
O plano da empresa prevê presença em cem cidades até meados de 2026, com foco nos grandes centros, e uso de municípios menores como ambientes de teste. A meta de longo prazo é levar o delivery para os 3,3 mil municípios onde a 99 já opera com mobilidade.
Já o iFood e a Uber entraram este mês em uma nova fase da parceria anunciada em maio, passando a integrar seus serviços de mobilidade e delivery dentro dos dois aplicativos. Além da integração nos apps, as empresas lançaram um plano conjunto que unifica o Clube iFood e o Uber One.
No mesmo movimento, a integração será replicada no app da Uber, que passará a exibir uma aba dedicada ao iFood. A capital mineira foi escolhida como piloto por ser uma das operações mais relevantes para as duas empresas.
Os aprendizados obtidos orientarão a expansão, que avançará em dezembro para capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Recife, Porto Alegre e Salvador. A cobertura nacional será finalizada em janeiro de 2026.
Além da nova experiência dentro dos apps, as duas companhias passam a oferecer um plano de assinatura conjunto que une o Clube iFood e o Uber One.
A Uber já teve uma operação de delivery no Brasil, o Uber Eats, que atuou por alguns anos no segmento de restaurantes e também incluía entregas de supermercados.
No entanto, optou por extinguir o serviço em março de 2022, alegando que concentraria seus serviços, além dos transportes, apenas nas entregas com o Uber Flash.
Já o iFood vem se posicionando como uma plataforma de conveniência multicategoria, destacando as demais frentes do app, como mercado, farmácia, pet shop e shopping. Ao longo de 2024, a empresa disse que essas categorias cresceram 50% em volume de pedidos e faturamento.
A estratégia inclui taxa zero para restaurantes por três anos (com cobrança de 3,5% de adquirência), além de incentivos a estabelecimentos que fazem entregas próprias ou operam pelo WhatsApp, canal que movimenta cerca de 130 milhões de pedidos.